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sexta-feira, 24 de abril de 2020

Condições estão evoluindo para o impeachment de Bolsonaro, diz Carlos Melo

Entrevista de Moro lembrou a de Pedro Collor em 1992, disse cientista política e professor do Insper, em live realizada nesta sexta-feira

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), em solenidade de Lançamento da Campanha do Projeto Anticrime. (Foto: Alan Santos/PR)

SÃO PAULO – O tom adotado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro na coletiva em que anunciou sua saída do cargo, apontando possíveis interferências indevidas em investigações da Polícia Federal, lembrou a entrevista concedida por Pedro Collor, em 1992, que acabou culminando no impeachment de seu irmão, Fernando Collor. A afirmação partiu do cientista político e professor do Insper, Carlos Melo, durante live promovida pela XP Investimentos nesta sexta-feira.
“As condições estão evoluindo para isso [o impeachment]”, disse o professor. Segundo ele, será difícil para o governo adotar uma postura de simplesmente tentar desmentir tudo que foi falado pelo agora ex-ministro. “O Moro não foi na coletiva pedir a demissão; ele foi para atingir o governo do presidente Jair Bolsonaro com várias revelações”, afirmou Melo, que disse que o ex-ministro deixou a entrevista com ares de candidato à presidência.
O professor do Insper destacou também que as crises que têm atingido o governo são fabricadas na maioria dos casos internamente pelo próprio Bolsonaro. “O presidente hoje é um líder disfuncional.”
Melo ressaltou, contudo, que, caso um processo de destituição do presidente da República venha a se confirmar, ele não se dará da noite para o dia, principalmente pela urgência que o coronavírus impõe ao momento. “Como diz a canção de Chico Buarque, não se afobe que nada é pra já”, afirmou. “Mas o presidente saiu mais fraco após a entrevista do que estava ontem à noite.”

Popularidade será crucial

Um ponto que deve ser monitorado com especial atenção a partir de agora será a divulgação das pesquisas de popularidade. Na visão de Melo, elas ajudarão a mostrar, dentro da base de apoio ao governo, quem é do time da Lava-Jato, e que pode passar a adotar um tom menos amistoso com a saída de Moro, e quem é de fato do chamado “núcleo duro” do presidente.
Ele acredita que, caso os níveis de aprovação de Bolsonaro recuem para a perigosa casa de um digito, o contexto ficará mais delicado para sua permanência: “Não tem quem segure, nem o Centrão.”
Victor Scalet, analista político da XP e também presente na live, apresentou uma prévia de uma pesquisa que ainda está em fase de produção e será divulgada de maneira completa neste sábado (25).
A pesquisa conta com cerca de 500 participantes até agora. Questionados sobre a expectativa quanto ao restante do mandato de Bolsonaro após a saída de Moro, 21% responderam esperar por uma condução boa ou ótima, uma queda de 14 pontos percentuais em relação ao levantamento realizado no inicio desta mesma semana.
Em outro tópico, 67% dos respondentes disseram que o impacto da saída de Moro é negativa, contra 8% que entendem que é positiva, e 15% que acham que não tem impacto.

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